PALANCA NEGRA GIGANTE EM PERIGO DE EXTINÇÃO

A palanca negra gigante, símbolo nacional de Angola, continua na lista das espécies criticamente ameaçadas de extinção, sendo a caça furtiva a maior ameaça à sua sobrevivência, alertou hoje o coordenador do projecto dedicado à conservação da espécie.

Pedro Vaz Pinto foi hoje um dos palestrantes da conferência ‘Fundação Kissama 30 Anos – Conservação, Investigação, Formação’, que decorre em Luanda, e lembrou que a palanca negra gigante – relativamente à qual se chegou a temer que estivesse extinta – atravessou desde a altura em que foi descoberta (1916) um século marcado por fases de caça descontrolada, períodos de guerra e pós-guerra devastadores, até às iniciativas de conservação mais recentes.

“A palanca negra gigante continua a ser uma espécie endémica e muito rara, que já esteve pior e a conservação tem vindo a melhorar, mas sem que isso signifique que está fora de perigo, não está de todo”, sublinhou.

Actualmente, estimou, a população ronda cerca de 300 animais, o que é pouco mais de 10% do que era há 50 anos. Isto, repetirá com certeza o Presidente João Lourenço, apesar de o MPLA ter feito mais em 50 anos do que os portugueses em 500…

“Portanto, nós temos de fazer mais”, disse. Segundo o especialista, só quando a população atingir cerca de 500 exemplares será possível sair da categoria de “criticamente em perigo” para “em perigo”, nos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o que levará pelo menos mais cinco a 10 anos.

Após décadas de declínio, em que chegou a ser considerada praticamente extinta, a espécie foi confirmada em 2005 no Parque Nacional da Cangandala, tendo sido implementado nos anos seguintes um programa de conservação “in situ”.

Para tal, foi necessário ir buscar um macho à Reserva Natural Integral do Luando, construir um santuário vedado e esterilizar os híbridos que se tinham juntado à população de palancas negras gigantes.

A caça furtiva continua como a maior ameaça a este animal e um em cada quatro animais imobilizados pelos biólogos apresenta feridas de armadilhas, relatou Pedro Vaz Pinto, acrescentando que não se trata de uma questão de subsistência para as comunidades locais, mas de comércio lucrativo, já que a carne seca é posteriormente vendida nos mercados.

O responsável acredita que o combate à caça depende de fiscalização mais eficaz, sendo necessários mais recursos humanos, meios materiais e apoio das entidades judiciais para que os caçadores sejam punidos.

A palanca negra gigante só existe em duas áreas de Angola, ambas na província de Malanje: o Parque Nacional da Cangandala e a Reserva Natural Integral do Luando. Segundo Vaz Pinto, a sobrevivência da espécie depende de um ordenamento mais rigoroso e de gestão adequada dos parques que pressupõe zonas de conservação com regras claras.

Para o especialista, só assim será possível conciliar a conservação com o crescimento populacional e o desenvolvimento económico

Pedro Vaz Pinto destacou a importância tornar a palanca acessível ao público angolano e desenvolver o ecoturismo.

“Um parque nacional é também um museu natural. Eu acho que era fundamental, e acho que era uma questão de orgulho nacional também, nós podermos mostrar a palanca a todos os angolanos. Gostava que as escolas de Malanje, os deputados, os ministros, todos, pudessem ver a palanca”, disse.

O investigador sublinhou ainda que os parques naturais não são sustentados apenas pelas receitas das entradas, devendo ser valorizado o impacto económico mais amplo do turismo de natureza.

“Tem que ser nessa forma holística que tem que ser pensada essa questão dos parques”, complementou.

A Fundação Kissama (FK) é uma organização não-governamental criada em 1995 para promoção da defesa, protecção e conservação da fauna e flora angolana.

Ligada ao Projecto de Conservação da Palanca Negra Gigante, a fundação é implementadora das acções de investigação e educação ambiental do projecto desde 2010.

A conferência reúne especialistas nacionais e internacionais, académicos, organizações da sociedade civil e representantes de instituições públicas ligadas à gestão ambiental, para debater os desafios e as soluções para a conservação da biodiversidade em Angola.

Para melhor se perceber esta questão, nomeadamente a política oficial de trocar seis por meia dúzia, republicanos o artigo “Cangandala protege palanca negra gigante” divulgado aqui no Folha 8 há dois anos (31 de Agosto de 2023):

O Parque Nacional da Cangandala, localizado a cerca de 25 quilómetros a sul da sede da província de Malanje, conta, actualmente, com uma população de 115 animais da espécie Palanca Negra Gigante, entre adultos e crias. Com excepção dos 20 milhões de pobres, é certo que o Governo de Angola faz tudo para preservar todas as espécies autóctones…

De acordo com o administrador do parque, Victor Manuel Paca, na Reserva Integral do Luando estão cadastradas cerca de 200 palancas, como foi comprovado na última contagem efectuada em 2022, no âmbito do censo anual da espécie.

Em Janeiro de 2004, um grupo do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, liderado por Pedro Vaz Pinto, obteve as primeiras evidências fotográficas do único rebanho que restava no Parque Nacional de Cangandala, confirmando-se assim a persistência da população (de palancas) após um duro período de guerra.

O repovoamento do santuário protegido permitiu à equipa da ANGOP avistar, de uma só assentada (“sentada”, segundo o texto da Agência Angola Press), numa viagem de pouco menos de 15 minutos dentro do parque, uma manada de cerca de 60 animais em pastagem.

Nos anos 60/70, a Reserva Integral do Luando tinha cerca de 2.500 palancas, enquanto o Parque Nacional de Cangandala contava com 200, números que viriam a reduzir drasticamente anos mais tarde devido à caça furtiva.

No que toca à fiscalização, Victor Manuel Paca adiantou que o Parque de Cangandala conta com 82 fiscais, número que o administrador do parque considera satisfatório. “A maior preocupação tem a ver com meios, como viaturas, capas de chuva, uniformes e botas, para melhorar o trabalho dos fiscais”, acrescentou.

Victor Manuel Paca deu conta da realização de patrulhamento apeado, de modo a eliminar os caminhos feitos pelos caçadores: “A perseguição aos caçadores faz-se, às vezes, num percurso de 14 quilómetros. A última acção do género foi feita na zona sul do parque e culminou na detenção de três caçadores. Temos feito um trabalho de sensibilização nas comunidades. Temos tido apoio dos sobas e professores”.

O administrador apela à população para a necessidade de preservar a palanca. “Quanto mais se preservarem mais ganham, por ser um símbolo nacional”, assevera o responsável.

Victor Manuel Paca diz que a caça furtiva é a maior preocupação. E explica: “Tem caça a tiro e através dos laços (armadilhas). Há também a problemática das queimadas, para a caça furtiva. Ou seja, os caçadores queimam uma área e posicionam-se numa outra. Por isso, temos reforçado a fiscalização em áreas precisas”.

Em termos humanos, o administrado do parque diz que a reserva do Luando tem 20 fiscais, controlados pela Unidade Técnica. Devido à acção dos caçadores furtivos, adianta, a zona norte do parque foi a área mais afectada pelas queimadas, com a devastação de 400 hectares.

“Há um esforço do Executivo em manter a fiscalização nas áreas de conservação, com o recrutamento de ex-militares que passam previamente por uma formação em matéria de ambiente, com vista a propiciar o repovoamento da Palanca”, reforça o responsável.

Victor Manuel Paca avança que o maior entrave ao turismo local tem sido o estado das vias de acesso, apesar da existência de uma via de terra batida que só permite a circulação de viaturas com tracção às quatro rodas.

Para a acomodação dos turistas, o parque conta com um aldeamento de 10 “bungalows” e um restaurante, cuja gestão, no seu entender, deve passar por intervenção privada.

“É preciso que haja alguém para investir no turismo, para se tirar proveito da espécie rara. Já existe um santuário para o turismo, com 185 quilómetros quadrados, faltando apenas a introdução da espécie. O santuário turístico já foi vedado e tem um bebedouro e miradouro”, recordou Victor Manuel Paca.

Para além da Palanca Negra Gigante, abundam no parque a pacaça, o burro do mato, porco-espinho, seixa, javali e outras espécies como perdizes e capotas.

Em relação à reintrodução de espécies animais, o administrador do parque diz ser um processo que carece de estudos: “Há espécies que nunca existiram no parque – como o elefante e as girafas. Para reintroduzir certas espécies é preciso um levantamento da vegetação”.

A Palanca Negra Gigante (Hippotragus nigervariani) foi descrita apenas em 1916 e, durante quase meio século, era conhecida como pertencente a uma “terra ladeada por dois rios”, um pedaço estreito de terra entre os rios Kwanza e Luando, que cedo foi destacado para protecção como Reserva Natural Integral do Luando.

A descoberta de uma segunda população, embora muito mais reduzida perto da cidade de Cangandala nos finais dos anos 50 conduziu à proclamação da Reserva da Cangandala, subsequentemente promovida a categoria de Parque Nacional em 1963, com o objectivo principal de proteger essa relíquia.

A Palanca Negra Gigante é uma subespécie da Palanca Negra (Hippotragus niger). De todas as subespécies, esta destaca-se pelo grande tamanho, sendo um dos ungulados africanos mais raros. Esta subespécie é endémica de Angola, apenas existindo em dois locais.

Tal como nas outras subespécies de Palanca Negra, o dimorfismo sexual é acentuado, contudo ambos os sexos apresentam cornos. Estes, por sua vez, são maiores nos machos, que podem atingir 1,6 metros de comprimento. Machos e fêmeas são muito parecidos até atingirem os três anos de idade, quando os machos ficam mais escuros e desenvolvem chifres majestosos.

O macho pesa em média 238 kg e apresenta uma altura de 116-142 cm. As fêmeas pesam 220 kg são ligeiramente mais pequenas que os machos. Os cornos apresentam uma maior curvatura nos machos, podendo atingir comprimentos de 81-165 cm, enquanto os cornos das fêmeas são mais curtos, medindo apenas 61-102 cm de comprimento.

Os machos apresentam uma pelagem negra, enquanto as fêmeas e os jovens são castanhos. Esta subespécie apresenta um padrão especial característico, com uma interrupção na linha branca que, nas outras subespécies, liga a mancha branca ocular à boca. Os juvenis com menos de dois meses de idade costumam ser acastanhados a apresentam pequenas marcas.

Desde 1933 constam na lista de “protecção absoluta” em função dos riscos que a espécie sofre, classificação adoptada no documento final da Convenção para a Protecção da Fauna e Flora Africana.

O Parque Nacional de Cangandala, o menor do país, tem uma área de 630 quilómetros quadrados. Ainda assim, a sua importância é grande, sobretudo pela protecção da Palanca Negra Gigante, fazendo com o parque seja bastante conhecido.

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